– Como vai, tudo bem com você ? – Com essa frase em português, mesmo com sotaque, o saxofonista italiano Stefano Di Battista surpreende o repórter, iniciando a entrevista concedida ao GloboOn, por telefone, de Roma, Itália. .
Um dos grandes talentos da nova geração do jazz italiano, o quarteto de Stefano será uma das atrações do TIM Festival, apresentando-se dia 26, em São Paulo, no Auditório Ibirapuera, e dia 27, no Rio de Janeiro, na Marina da Glória. Com ele atuarão Fabrizio Bosso (trompete), Jean Baptiste Trotignon (órgão, que recentemente tocou na Sala Cecília Meirelles) e Eric Harland (bateria).
Esta será a segunda vinda de Stefano ao Brasil. Há quatro meses ele fez uma turnê tocando em Brasília, Curitiba e São Paulo.
Natural de Roma, aos 38 anos, ele tem uma carreira estabelecida e reconhecida internacionalmente através de concertos e gravações que o projetaram como um dos expoentes do firmamento jazzístico europeu e mundial. Tudo começou quando ouviu um disco que mudou sua vida.
– Tinha 16 anos quando comprei um disco reunindo alguns dos maiores saxofonistas do mundo. Foi quando descobri o jazz, sem ainda saber exatamente o que era essa música fascinante. Já tocava sax-alto, mas, como sou de uma família sem músicos, até então desconhecia a existência dessa música maravilhosa. Foi assim que ouvi e fui influenciado por Charlie Parker, Sonny Stitt, Art Pepper, Kenny Garrett, Michael Brecker e outros grandes saxofonistas. Meu professor foi Massimo Urbani, uma glória do jazz italiano. A partir daí sempre procurei tocar jazz e aos 18 anos atuava em alguns clubes com músicos profissionais.
Sua carreira decolou quando foi para Paris, em 1994, enturmando-se com os músicos locais, ente eles os bateristas Aldo Romano e Daniel Humair, o baixista Jean-François Jenny Clarke e o pianista Michel Petrucciani, com quem gravou um disco.
– A cena jazzística de Paris é fantástica. Lá toquei com músicos americanos de passagem como o trompetista Nat Adderley, o baixista Walter Booker e o baterista Jimmy Cobb. Em julho de 2000 tive a sorte de tocar com o lendário baterista Elvin Jones, com quem gravei um disco e fiz uma longa turnê pelo mundo.
Sobre seus discos, comenta que têm sido bem recebidos pela crítica e pelo público.
– Desde meu primeiro disco, intitulado “Volare”, para o selo Label Bleu, com um quinteto, recebi comentários favoráveis que muito me estimularam. Depois vieram outros, incluindo um tributo a Charlie Parker, e não parei mais de gravar.
Ele descreve com entusiasmo a cena de jazz italiana, considerada pela crítica especializada como a segunda em importância e qualidade do mundo:
– O jazz na Itália ganhou força e destaque, conhecendo uma fase de prosperidade musical extraordinária. Temos inúmeros festivais em várias cidades, incluindo o de Umbria, um dos mais importantes, e há várias gravadoras especializadas em jazz. Com isso, os jovens músicos tomam o caminho do jazz e a quantidade de instrumentistas que surgem anualmente é realmente espantosa. É um sinal da exuberância que atravessa o jazz italiano.
Contente por voltar ao Brasil, Stefano elogia nossa música e a cozinha brasileira, cujos pratos típicos experimentou e gostou bastante.
– A música brasileira possui um encanto e uma sofisticação que me cativa há muito tempo. Tive uma experiência marcante quando toquei com Ivan Lins, que admiro como músico e pessoa.
Nos seus concertos, ele tocará composições do seu ultimo CD, ”Trouble Shootin”, incluindo “Echoes of Brasil”, uma singela homenagem à nossa música.
– Cada novo disco implica em novas descobertas. Penso que a improvisação do jazz é uma aventura das coisas impossíveis, reflete o prazer de viver, uma maneira instintiva de buscar e deixar-se levar pela imaginação através dos caminhos que sabemos existirem, mas sempre tentamos dizer musicalmente algo mais do que sabemos e podemos, enfim, é realizar uma viagem ao desconhecido dentro de uma linguagem conhecida e renovadora. É isso que faremos no Brasil. Em nosso repertório tocaremos temas do novo CD, incluindo minha composição “Under Her Spell”, que acredito agradará aos brasileiros – despede-se Stefano Di Battista com um “até logo”.
José Domingos Raffaelli