O novo som Meirelles e os Copa 5
Um dos acontecimentos mais importantes na música instrumental brasileira foi o reaparecimento do saxofonista e flautista J. T. Meirelles, em agosto do ano passado, numa temporada de sucesso no bar
A individualidade da concepção de Meirelles aflora em todos os momentos, e a coesão do conjunto reflete o entusiasmo e o dinamismo das interpretações, com arranjos simples e efetivos do líder de irresistível balanço.
Os principais solistas são Meirelles e Deodato, em forma exuberante, tocando com grande disposição e invenção melódica, mas também há intervenções de Menescal e Waltel Branco. Não podemos omitir a atuação de Edison Machado, um inovador da bateria cuja pulsação e distribuição repletas de acentuações rítmicas deslocadas injetam dinamismo e suingue constantes. O repertório de 12 temas, é dividido entre clássicos da bossa nova, e três composições originais de Meirelles, “Serelepe”, “Solo” e “O novo som”, que tinham sido incluídos como faixas bônus na reedição de “O som”.
Solo de Meirelles lembra estilo de Johnny Griffin
A charmosa melodia da música-título é adequada para o líder projetar seu lirismo num modelar solo de flauta. Em “Serelepe”, um tema rítmico-melódico de grande efeito em andamento rápido, Meirelles literalmente explode numa cascata de notas ebulientes ao sax-tenor, evocando certos maneirismos de Johnny Griffin. A estrutura melódico-harmônica de “Solo” proporciona uma improvisação de rara continuidade de Meirelles na flauta, embalado pelo soberbo apoio de Edison Machado.
Entre as músicas conhecidas, “Você” é exposta por sax-tenor e guitarra em uníssono, com breves passagens do líder e de Eumir Deodato. A misteriosa introdução de “Preciso aprender a ser só” conduz ao solo de Meirelles mais relax do disco, no sax-tenor; e “Samba de verão”, uma melodia simples construída sobre a mesma frase ascendente/descendente, alterna solos de tenor e piano. A insinuante “Balanço Zona Sul”, de Tito Madi, uma composição em voga nos anos 60 e 70 cujas harmonias favorecem a improvisação, tem todas as passagens da bridge tocadas por Deodato. A força melódica de “Pensativa”, obra-prima do pianista e arranjador Clare Fischer, dificulta improvisar sobre suas harmonias, mas o conjunto faz justiça à sua beleza. O arranjo de “Ela é carioca” destaca a sonoridade coletiva em uníssono, e o samba “Diz que fui por aí” realça o suingue do conjunto. Outros exemplos de um estilo ainda hoje moderno.
José Domingos Raffaelli