O novo som Meirelles e os Copa 5
Um dos acontecimentos mais importantes na música instrumental brasileira foi o reaparecimento do saxofonista e flautista J. T. Meirelles, em agosto do ano passado, numa temporada de sucesso no bar do Hotel Novo Mundo, de grande repercussão no meio musical. Após anos de ausência, ele retomou sua carreira, motivando a gravadora Dubas a reeditar dois discos históricos do seu conjunto Meirelles e os Copa 5, uma das forças do samba-jazz, gravados para a Philips nos anos 60 — o pri-meiro, “O som”, originalmente lançado em 1964, foi reeditado há quatro meses. Em “O novo som”, Meirelles (sax-tenor e flauta) comanda um grupo de astros que na época iniciava sua trajetória, com Eumir Deodato (piano), Roberto Menescal (violão), Waltel Branco (guitarra), Manoel Gusmão (baixo) e Edison Machado (bateria). A faixa-bônus, “O barquinho”, foi gravado na Alemanha com o trio do pianista Dom Salvador.
A individualidade da concepção de Meirelles aflora em todos os momentos, e a coesão do conjunto reflete o entusiasmo e o dinamismo das interpretações, com arranjos simples e efetivos do líder de irresistível balanço.
Os principais solistas são Meirelles e Deodato, em forma exuberante, tocando com grande disposição e invenção melódica, mas também há intervenções de Menescal e Waltel Branco. Não podemos omitir a atuação de Edison Machado, um inovador da bateria cuja pulsação e distribuição repletas de acentuações rítmicas deslocadas injetam dinamismo e suingue constantes. O repertório de 12 temas, é dividido entre clássicos da bossa nova, e três composições originais de Meirelles, “Serelepe”, “Solo” e “O novo som”, que tinham sido incluídos como faixas bônus na reedição de “O som”.
Solo de Meirelles lembra estilo de Johnny Griffin
A charmosa melodia da música-título é adequada para o líder projetar seu lirismo num modelar solo de flauta. Em “Serelepe”, um tema rítmico-melódico de grande efeito em andamento rápido, Meirelles literalmente explode numa cascata de notas ebulientes ao sax-tenor, evocando certos maneirismos de Johnny Griffin. A estrutura melódico-harmônica de “Solo” proporciona uma improvisação de rara continuidade de Meirelles na flauta, embalado pelo soberbo apoio de Edison Machado.
Entre as músicas conhecidas, “Você” é exposta por sax-tenor e guitarra em uníssono, com breves passagens do líder e de Eumir Deodato. A misteriosa introdução de “Preciso aprender a ser só” conduz ao solo de Meirelles mais relax do disco, no sax-tenor; e “Samba de verão”, uma melodia simples construída sobre a mesma frase ascendente/descendente, alterna solos de tenor e piano. A insinuante “Balanço Zona Sul”, de Tito Madi, uma composição em voga nos anos 60 e 70 cujas harmonias favorecem a improvisação, tem todas as passagens da bridge tocadas por Deodato. A força melódica de “Pensativa”, obra-prima do pianista e arranjador Clare Fischer, dificulta improvisar sobre suas harmonias, mas o conjunto faz justiça à sua beleza. O arranjo de “Ela é carioca” destaca a sonoridade coletiva em uníssono, e o samba “Diz que fui por aí” realça o suingue do conjunto. Outros exemplos de um estilo ainda hoje moderno.
José Domingos Raffaelli
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